24 de janeiro de 2016

Zazen - 24/01/2016

Hoje eu vi uma nuvem.

Caminhando entre prédios e pessoas, fluindo contra a corrente de sonhos e frustrações, repentinamente olhei para o alto.

Olhei para o céu, para um azul tão profundo que me fez congelar no tempo infinito de um piscar de olhos, no espaço imenso entre dois passos.

Olhei para o céu e vi uma nuvem. Não era especial, multicolorida, misteriosa ou cenográfica.

Não era nuvem de amanhecer ou pôr do sol, sequer nuvem de meio-dia.

E entretanto, era tão bela!

Ninguém mais via a nuvem.

Ela passava lentamente, um colosso suave no mais profundo azul -- e ninguém mais olhava para ela.

Aquelas pessoas viam (tenho certeza disso) o asfalto.

Percebiam o concreto, os seus horários, seus compromissos, seus sucessos, sua pressa e a tediosa rotina de uma mente embotada de desejos.

Mas nenhuma -- nem mesmo uma única delas -- via a nuvem.

Eu fui afortunado. Em um momento simples e causal, despertei por alguns instantes do sono medíocre de minha ignorância e olhei para o céu.

Olhei para aquele cenário imenso por trás da banalidade insensível, e vi a força do momento.

Ninguém mais via a nuvem, e apesar disso ela passava sem rancor ou alarde, generosamente nos oferecendo a dádiva de sua momentânea realidade.

A vida é arte pura, feita por momentos grávidos de possibilidades.

Apesar dos medos, apesar dos anseios, da cobiça e da frustração.

Apesar dos ódios, da mesmice, do desprezo e da ilusão.

Apesar de tudo, existem as nuvens...

Monge Kōmyō
Janeiro de 2014

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