8 de março de 2015

Zazen - 08/03/2015

Um velho homem bêbado acidentalmente caiu nas terríveis corredeiras de um rio que levavam para uma alta e perigosa cascata. Ninguém jamais tinha sobrevivido àquele rio.

Algumas pessoas que viram o acidente temeram pela vida do homem, buscando desesperadamente chamar sua atenção. Mas, bêbado, ele se encontrava quase desmaiado.

Miraculosamente ele conseguiu sair salvo quando a própria correnteza o despejou na margem de uma curva do rio.

Ao testemunhar o evento, Kung-tzu (Confúcio) comentou para todas as pessoas que diziam não entender como o homem tinha conseguido sair de tão grande dificuldade sem luta:

"Ele se acomodou ao rio, não desesperou-se com ele. Sem pensar, sem racionalizar, ele permitiu que a água o envolvesse. Se entregando à correnteza, conseguiu sair da correnteza. Assim foi como conseguiu sobreviver."




Seguindo a corrente
Fonte: https://www.facebook.com/monge.komyo

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Comentário de Monge Kōmyō sobre o conto:
 

Não é fácil obter uma mente pacífica. O ensinamento é simples e cristalino, mas as paixões arraigadas em nossa mente condicionada nos levam de roldão no fluxo intenso das consequências de nossas ações.

Homens e mulheres sábios apontam o caminho, nós os admiramos e buscamos coragem para trilhar a senda, mas o rio implacável da existência nos dá medo. E então desesperamos.

Diante da avassaladora força dos acontecimentos, pensamos que a saída está em lutar e resistir, recusar-se a aceitar outra opção senão o conflito. A mente ignorante vive uma guerra épica contra a Impermanência. E perde todas as batalhas, de um modo ou de outro.

Os praticantes do zen vivem um sério dilema; pois a essência da prática está em render-se, deixar ir, permitir que a consciência flua sem resistência, plena, incondicionada.

A ignorância, como um demônio sedutor, sussurra em nossa mente: “Desespere! Odeie! Cobice! Reprima! Não perca o controle". Contudo, a verdade ancestral – aquela que passamos a vida escondendo de nós mesmos – é que não há como controlar a dinâmica da existência.

Não é fácil obter uma mente serena. Mas é totalmente possível atingi-la, se vivermos com sensibilidade e fluidez. Estamos todos, sem exceção, mergulhados no rio implacável -- mas também generoso em opções -- do tempo.

A vida sempre nos oferece oportunidades. Se soubermos escolher com clareza, se soubermos entender o sentido da aceitação, seremos capazes de viver sem conflitos.

E ao final de tudo (quem sabe) descobriremos que a guerra não existe, exceto nas ilusões de nossa própria insegurança.

Monge Kōmyō


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