18 de março de 2012

Pratique o Zazen




Usualmente, sem que tenhamos consciência disso, tentamos mudar as coisas em vez de mudar a nós mesmos; tentamos arrumar as coisas que estão fora de nós. Mas é impossível ordenar as coisas se você mesmo não está em ordem. Quando você faz as coisas de forma certa, no momento oportuno, tudo o mais se organiza. Você é o chefe. Quando o chefe está dormindo, todos dormem. Quando ele faz algo bem feito, todos os demais o fazem igualmente bem e no tempo certo. Este é o segredo do buddhismo. Portanto, procure manter a postura correta, não apenas quando pratica zazen mas em todas as suas atividades. Adote a postura certa quando estiver dirigindo um carro ou quando estiver lendo. Se você lê numa posição displicente, não pode ficar lúcido por muito tempo. Experimente. Você descobrirá como é importante manter a postura correta. Este é o ensinamento verdadeiro. Ensinamentos escritos no papel não são verdadeiros ensinamentos, são alimento para o cérebro. Claro que é preciso alimentar o cérebro; porém, o mais importante é ser você mesmo praticando a forma correta de viver.

Eis por que o Buddha não pôde aceitar as religiões que existiam na sua época. Ele estudou várias religiões mas não ficou satisfeito com suas práticas. Não encontrou respostas no ascetismo ou nas filosofias. Ele não estava interessado nos aspectos metafísicos da existência, e sim em seu próprio corpo e sua própria mente no aqui e agora. E quando encontrou a si mesmo, descobriu que tudo quanto existe tem natureza búddhica. Essa foi sua iluminação. Iluminação não é uma sensação agradável ou algum estado particular da mente. O estado da mente que existe quando você se senta em postura correta é, por si só, iluminação. Se você não está satisfeito com o estado da mente que tem no zazen, significa que sua mente está divagando por aí afora.

E nosso corpo e nossa mente não devem oscilar nem vaguear. Nessa postura, não há por que falar em estado correto da mente. Você já o possui. Esta é a conclusão do buddhismo.

Shunryu Suzuki - Mente de Principiante.

Bodhidharma (Daruma) e o Zen



Bodhidharma ensinava que a iluminação não se encontra em livros ou rituais, mas no interior de nós mesmos. E através da meditação limpamos os véus do obscurecimento e recordamos a nossa natureza de Buda. 

Bodhidharma definiu o Zen como uma transmissão especial para além das escrituras, que não depende de palavras ou letras, mas aponta directamente para a mente, vendo a nossa verdadeira natureza e alcançando a Iluminação("A special transmission beyond Scriptures, Not depending on words or letters, But pointing directly to the Mind, Seeing into one's true Nature, And realizing one's own Enlightenment").

Esta mente é por ele descrita como, desde tempos sem começo, nunca ter mudado. "Nunca viveu ou morreu, apareceu ou desapareceu, cresceu ou diminuiu. Não é pura nem impura, boa ou má, passado ou futuro. Não é verdadeira nem falsa. Não é macho ou fêmea. Não surge como um monge ou um laico, um ancião ou um noviço, um sábio ou um louco, um buda ou um mortal. Não procura a realização e não experimenta o karma. Não tem solidez ou forma. É como o espaço. Não o possuis e não o perdes. Os seus movimentos não podem ser bloqueados por montanhas, rios ou rochas. Nenhum karma pode restringir este corpo real. Mas esta mente é subtil e difícil de ver. Não é o mesmo que a mente dos sentidos. Todos querem ver esta mente e os que movem os pés e as mãos à sua luz são tão numerosos como as areias do Ganges, mas quando lhes perguntas, não conseguem explicá-la. Pertence-lhes e usam-na. Mas porque não a podem ver?... Só os sábios conhecem esta mente, esta mente chamada natureza do dharma, esta mente chamada libertação. Nem a vida nem a morte a pode libertar. Nada pode. Também se chama o Imparável Tathagata, o Incompreensível, o Eu Sagrado, o Imortal, o Grande Sábio. O nome varia mas não a essência." 

Fonte: dados biográficos recolhidos de Denkoroku, The Record of the Transmission of Light, de autoria do Mestre Zen Keizan Jokin. Citações traduzidas livremente de The Zen Teaching of Bodhidharma. Para mais reproduções de Daruma, ver www.shambhala.com/zenart.